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CNA destaca relevância da hidrovia Paraguai-Paraná para o agro brasileiro na Câmara dos Deputados
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Confederação discutiu o assunto em audiência pública na Relações Exteriores e de Defesa Nacional

21 de maio 2025
Por CNA

Brasília (21/05/2025) – A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) destacou os impactos e a relevância da hidrovia Paraguai-Paraná para o setor agropecuário brasileiro, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, na terça (20).

A assessora técnica da CNA, Elisangela Pereira Lopes, falou sobre o tema destacando o crescimento da produção nacional de grãos e a necessidade de infraestrutura para escoamento dessa produção, além da redução dos custos com transporte de cargas.

Elisangela mencionou que a próxima safra de grãos, segundo estimativas da Conab, deve ser recorde, chegando a 333 milhões de toneladas na safra 2024/2025.

"Hoje o maior desafio é o o aos portos. Temos uma matriz predominantemente rodoviária e isso incorre em custos de transporte muito altos. Ou seja, precisamos de ferrovias e hidrovias para redução desses custos", disse.

A especialista ressaltou que a produção de soja e milho no Brasil tem crescido 10 milhões de toneladas por ano, principalmente nas novas fronteiras agrícolas. "Essas são áreas de influência da hidrovia Paraguai-Paraná e, hoje, quando falamos de soja e milho, 85% de tudo que é movimentado é por caminhão e isso tem um custo elevado."

Elisangela falou ainda da movimentação entre os portos do Arco Norte e de Santos, citando que em 2022 os portos do Arco Norte se sobressaíram, com superávit de 5,5 milhões de toneladas quando comparado a Santos. No entanto, ressalta, em 2023, o Arco Norte voltou a cair, com um déficit de 100 mil toneladas e a principal causa foi a seca nos rios Madeira e Tapajós.

"Então, o agro precisa de previsibilidade, de ter a certeza de que poderemos escoar a produção pelos caminhos já definidos. Porém, o que temos visto nos noticiários é a falta de manutenção permanente dos nossos rios, o que tem causado o desvio de cargas para outros portos.”

A assessora técnica da CNA também abordou as características dos modos de transporte, destacando que a matriz brasileira é 66% rodoviária, seguida de ferrovias, com 18%. Em relação à carga por ferrovias, Elisangela mencionou que o agro representa 18,5%. "Temos potencial para usar nossas ferrovias e rios, pelo menos 43 mil quilômetros de rio, mas hoje se usa menos da metade disso.”

Elisangela explicou ainda que quando se usa outros meios de transporte além do rodoviário, há uma redução considerável nos custos no transporte.

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"Dados de abril desse ano mostram que a soja, saindo de Sorriso (MT) até Santos (SP), quando o transporte é predominantemente rodoviário, o custo é 126 dólares por tonelada. Quando se faz uma interação entre o caminhão e o trem, cai para 120 dólares/tonelada. Ao se colocar um rio no meio, esse valor cai para 108 dólares, quase 15% a menos do que o uso apenas do caminhão."

Ela fez um comparativo com os EUA, que tem área territorial próxima ao Brasil e devido ao uso do rio Mississipi, o custo do transporte é de 67 dólares por tonelada, quase 47% menor que os custos no Brasil.

"Temos vários Mississipis aqui no Brasil que poderiam ser utilizados, por isso a outorga é tão importante. E quando a gente fala de movimentação de carga do agro no Rio Paraguai-Paraná, ainda é muito singela.”

Elisangela lembrou que em 2023 houve um aumento da carga do setor transportada pela hidrovia, mas devido à quebra de safra na Argentina, em que o Brasil fez o transporte para o país vizinho e para o Paraguai.

Ela acrescenta que mesmo que a hidrovia não deva ser usada predominantemente para uso agropecuário, mas para minério, a tendência é que a soja brasileira represente 7% da carga transportada, em torno de 3,5 milhões de toneladas até 2045.

“O que significa tirar 80 mil caminhões das estradas, ou seja, fazer a interação entre a estrada e a hidrovia tornando esse custo de transporte muito menor, principalmente para viabilizar as nossas commodities.”

A assessora falou do levantamento da CNA sobre as demandas do agro para o setor de logística e infraestrutura, com foco principalmente na criação do marco regulatório da navegação em rios, plano geral de outorgas de hidrovias e intervenções permanentes nos rios.

"Isso tudo não é apenas questão de custos, mas da questão ambiental também, que é importante para redução das emissões dos gases de efeito estufa”, disse.

A audiência discutiu ainda a falta de transparência da Argentina na gestão da hidrovia Paraguai-Paraná. O trecho do rio a ser outorgado no Brasil, com 600 km de extensão, deverá conectar Corumbá (MT) a Foz do rio Apa (fronteira do Paraguai), e a previsão é que a maior tarifa a ser praticada seja de R$ 1,27 por tonelada. Porém, a parte do rio sob istração da Argentina está cobrando US$ 3 dólares por tonelada (R$ 16,97 – cotação de hoje).

A assessora da CNA frisou que as entidades do setor têm participado ativamente das discussões sobre a temática, mas que lhe causou espanto as diferenças na tarifa cobrada pela Argentina para o transporte de cargas.

"A tarifa deles é mais de 10 vezes maior que a tarifa que nós vamos pagar aqui no Brasil. Isso cria um alerta porque pode inviabilizar o transporte de cargas do agro. Embora a tarifa praticada em uma hidrovia seja 30% a 40% do valor cobrado no modo rodoviário, devemos ficar atentos para que esse custo de transporte imposto pela Argentina não inviabilize e traga prejuízos ao escoamento das commodities brasileiras.”

A audiência pública foi realizada por meio de requerimento do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL/SP) e ouviu ainda o embaixador e diretor do Departamento de América do Sul, do Ministério das Relações Exteriores (MRE), João Marcelo Galvão de Queiroz, o secretário Nacional de Hidrovias e Navegação, do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), Dino Antunes Dias Batista, o ministro e representante da Embaixada do Brasil em Buenos Aires, Carlos Fernando Gallinal Cuenca, o diretor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Alber Furtado de Vasconcelos Neto, e o presidente da DTA Engenharia Portuária e Ambiental, João Acácio Gomes de Oliveira Neto.

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