ALIMEN T AN D O O B R A SILEIRO

Goiás

ESG avança nas empresas rurais goianas
Fazenda Pamplona GO Credito Marcelo Coelho 1 1

Mesmo sendo um conceito relativamente novo no campo, tem crescido a adoção da agenda ESG, com foco em gestão voltada para sustentabilidade e bem-estar

24 de abril 2025

A sigla ESG (Environmental, Social and Governance – Ambiental, Social e Governança) surgiu em 2004, em um relatório do Pacto Global da ONU intitulado Who Cares Wins (“Quem se Importa, Ganha”). Elaborado em parceria com instituições financeiras, o relatório destacava a importância de considerar fatores ambientais, sociais e de governança na análise de investimentos. A ideia central era que empresas que adotam boas práticas nesses três pilares tendem a ser mais sustentáveis e lucrativas no longo prazo, reduzindo riscos financeiros e melhorando sua reputação.

O conceito ganhou força ao longo do tempo, especialmente após a crise financeira de 2008, quando investidores aram a exigir mais transparência e responsabilidade das empresas. Além disso, eventos climáticos extremos e escândalos corporativos reforçaram a necessidade de práticas empresariais mais sustentáveis e éticas. Hoje, ESG não é apenas um critério para investidores, mas também um fator estratégico para empresas que desejam atrair consumidores e parceiros comprometidos com a sustentabilidade e a ética nos negócios.

A aplicação dos princípios ESG nas empresas rurais começou a ganhar força a partir dos anos 2000, impulsionada pelo crescimento da preocupação global com sustentabilidade, mudanças climáticas e responsabilidade social. No entanto, sua consolidação ocorreu na última década, à medida que investidores e mercados aram a exigir maior transparência e práticas sustentáveis no agronegócio.

Em Goiás, a adoção do ESG nas empresas rurais se destacou a partir de 2020, acompanhando a tendência de investidores e consumidores que exigem transparência, redução de emissões de carbono e responsabilidade social. Atualmente, as práticas mais comuns incluem o uso eficiente da água, rastreabilidade da cadeia produtiva, preservação de áreas nativas, redução do desmatamento, bem-estar animal e inclusão social.

Uma das empresas pioneiras na adoção do ESG no estado é a SLC Agrícola, que atua na produção de algodão, soja, milho e sementes. Suas atividades são desenvolvidas em 23 propriedades distribuídas por sete estados brasileiros. Em Goiás, no município de Cristalina, a Fazenda Pamplona se destaca como referência para outras unidades.

“Sempre tivemos como alicerce a combinação entre nossa visão de negócios e o cuidado com o meio ambiente. Com uma governança cada vez mais fortalecida e alinhada às melhores práticas, amos a promover uma agenda ESG pioneira, guiada por cinco objetivos: neutralidade de carbono nos escopos 1 e 2 até 2030; certificação de todas as fazendas no nosso sistema de gestão integrado; incentivo à educação para todos os colaboradores; promoção de um ambiente de trabalho seguro; e contribuição para a melhoria da educação nas comunidades locais”, explica o diretor de Recursos Humanos, Sustentabilidade e TI da SLC Agrícola, Álvaro Dilli.

Diferentes certificações compõem um sistema em permanente aprimoramento, atendendo a quatro normas de gestão internacionais: ISO 14.001 para Gestão Ambiental, ISO 45.001 para Saúde e Segurança Ocupacional, ISO 9001 para Qualidade e Estratégia e NBR 16.001 para Responsabilidade Social.

“Esse sistema garante a adoção das melhores práticas e processos, além de guiar os critérios ambientais, sociais e de governança. Para obter essas e outras certificações, são necessárias ações voltadas à preservação e controle dos impactos ambientais, além da avaliação e monitoramento das conformidades com os requisitos legais aplicáveis. Em 2024, por exemplo, amos a contar com a certificação Regenagri, padrão internacionalmente reconhecido que atesta as práticas de agricultura regenerativa, em seis unidades da companhia. Entre as vantagens da adoção do ESG, destacamos nossa responsabilidade como um dos maiores players do setor. Esses e outros avanços e certificações ampliam a confiança dos investidores e stakeholders, que am a enxergar a SLC Agrícola como referência nesses aspectos", ressalta o diretor.

Consultoria em ESG

Por meio do Programa Senar Serviços, o Senar Goiás oferece consultoria para produtores rurais interessados em implementar o ESG em suas propriedades. “O consultor aplica um questionário para avaliar como estão os quesitos ambientais, sociais e de governança do produtor. Tudo é pautado na ABNT PR2030, norma lançada em dezembro de 2022, que possui 145 páginas com diversas práticas recomendadas para o setor ESG no Brasil. Com base nesse levantamento, apresentamos um diagnóstico e implementamos um plano de ação para atender às exigências. Essas adequações, inicialmente, ajudam a evitar embargos ou multas”, explica o gerente de Inovação do Senar Goiás, Odilon Neto.

O objetivo do Senar Serviços ESG é apoiar e orientar o produtor para que ele torne seu negócio cada vez mais ambientalmente correto, socialmente justo e alinhado às boas práticas de governança. “Já nos reunimos com o Senar Nacional e a CNA [Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil], e a ideia, no médio e longo prazo, é implementar um selo de reconhecimento do nosso serviço ESG, permitindo que produtores sejam reconhecidos por empresas e compradores e possam se beneficiar disso”, relata o gerente.

Para receber a consultoria do Senar Serviços ESG, o produtor deve procurar o Sindicato Rural e solicitar o atendimento. A consultoria é gratuita e individualizada, composta por etapas presenciais e remotas, com duração de até 12 meses. Atualmente, produtores de Morrinhos, Cristalina, Cabeceiras e Cocalzinho já estão sendo atendidos.

“A aceitação tem sido positiva, pois os produtores conseguem visualizar de forma macro toda a realidade da propriedade. Com o questionário desenvolvido, percebem aspectos que antes avam despercebidos, especialmente sobre legislação. Nossa meta é ajudar o produtor a alcançar um mercado diferenciado, alinhado ao padrão ESG e às conformidades ambientais, sociais e de governança. Também abordamos a sucessão familiar, o bem-estar dos animais e dos colaboradores, e o gerenciamento de riscos para evitar autuações. Estamos trabalhando para uma futura certificação e agregação de valor aos produtos dessas propriedades”, destaca o consultor de ESG, Ricardo Carneiro.

Eliene Ferreira, produtora rural focada na produção de grãos, está entre os atendidos pelo programa. “Sempre buscamos adotar práticas sustentáveis na fazenda, mas não sabíamos que havia uma agenda padronizada e que essas adequações nos trariam benefícios. Quando soube da consultoria, aproveitei a oportunidade. Sempre priorizamos o bem-estar dos funcionários, temos alojamentos bem cuidados e sinalização adequada. Agora, vamos focar no gerenciamento de resíduos, na estrutura de armazenagem e em outros fatores de sustentabilidade. Outra questão importante é a governança: muitas vezes, quem cuida da parte operacional também lida com o financeiro, e precisamos separar essas funções. Estamos gostando muito do processo”, relata a produtora.

Concurso Faeg Jovem e a temática ESG


O tema ESG foi escolhido para o programa Faeg Jovem 2025 por ser um dos pilares estratégicos para o futuro do agronegócio. “O Faeg Jovem se baseia na liderança, sucessão e empreendedorismo, e a adoção dos princípios ESG fortalece esses três eixos. Na liderança, os jovens do agro precisam estar preparados para conduzir propriedades de forma sustentável e inovadora. Na sucessão, é essencial que as novas gerações incorporem práticas responsáveis, garantindo a continuidade das atividades no campo. No empreendedorismo, o ESG cria oportunidades para novos modelos de negócios, agregando valor à produção e fortalecendo a competitividade do setor agropecuário brasileiro”, explica Leonnardo Cruvinel, diretor técnico do Senar Goiás.

O tema tem ganhado destaque na agenda global, influenciando investimentos, políticas públicas e a relação do agronegócio com a sociedade. “Preparar os jovens para esse cenário é garantir um futuro próspero e sustentável. No Concurso 2025, os grupos deverão desenvolver projetos com carbono zero, promover inclusão social e ajudar produtores rurais a melhorar sua governança”, detalha Leonnardo.

Comunicação Sistema Faeg/Senar/Ifag

Matérias Relacionadas